EUA/Alemanha, 2013, 131 min.
Direção: Brian Percival
Roteiro: Michael Petroni (baseado no romance A Menina que Roubava Livros, de Markus Zusak)
Elenco: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson, Ben Schnetzer, Nico Liersch, Joachim Paul Assböck, Sandra Nedeleff, Hildegard Schroedter, Rafael Gareisen, Gotthard Lange, Godehard Giese
"Por mais que seja um filme eficiente, falta um pouco mais de ambição nessa adaptação do aclamado best-seller de Markus Zusak."
por Leo Bastos
É impossível conduzir a abordagem de um assunto tão forte como Nazismo de forma suave apenas para contar uma história que se passa naquele período, esquecendo-se do mais importante: o estudo a fundo dessa época. Assim como também não funciona imaginar o tema como personagem coadjuvante de alguma obra. Quem assistiu a filmes como A Lista de Schindler, O Pianista e até mesmo A Vida é Bela (que apesar de ser bastante poético, não foge da grande reflexão) sabe bem do que estou me referindo. E por mais que a leveza da adaptação cinematográfica do best-seller de Markus Zusak (livro esse que eu não li) possa tocar o telespectador em alguns momentos da projeção, falta muita ambição no foco das discursões que propõe. Dirigido pelo estreante em cinema Brian Percival, que foi responsável por alguns episódios da série britânica Downton Abbey.
O roteiro adaptado por Michael Petroni (do entediante As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada) começa em 1938 na Alemanha, quando a jovem Liesel Meminger (Nélisse) presencia a morte do irmão mais novo durante uma viagem aos quais eram levados pela mãe, perseguida por ser comunista, para viverem com o casal Rosa (Watson) e Hans Hubermann (Rush) – ao qual Liesel constrói um grande companheirismo - em uma rua chamada Paraíso. Liesel, que ainda não sabe ler nem escrever, inicialmente tem dificuldades para lidar com sua nova vida. Aos poucos, a garota aprende a magia das palavras, e fica completamente apaixonada pelo universo, levando-a a adquirir ilegalmente alguns livros. Faz amizade com o garoto Rudy (Liersch) e ganha proteção da mulher do prefeito, Ilsa Hermann (Auer) que dispõe de um grande acervo literário. Mas seu cotidiano e de seus pais adotivos começa a ficar agitado com a chegada do judeu Max (Schnetzer), filho de um velho amigo de Hans, o rapaz acaba pedindo proteção à família. O filme é narrado pela morte de forma inconstante, recurso bem empregado, começando pela falta de exagero, sempre em momentos bem vindos, que os tornam interessantes até certo ponto e ainda ajuda na narrativa. Pena que essa ultima citada na maioria das cenas apenas se preocupa em centrar nos conflitos pessoais desses personagens, deixando o tema principal de lado para só usá-lo quando o roteiro precisar de algum clímax. Assim o nazismo vira apenas um cenário para a saga de uma menina e o novo mundo que lhe é apresentado. Só no finalzinho é que vemos um pouco de conteúdo a mais, na abordagem dos ataques aéreos da segunda guerra. Mas de toda forma apresenta bons personagens, e mesmo apresentados de forma irregular e ocupando um peso não tão forte quanto o contexto histórico que vivem, ainda sim continuam sendo o ponto forte do longa-metragem: Liesel consegue segurar o peso de protagonista, e sua relação com os demais é capaz de despertar o carisma do público. Com seu amiguinho Rudy, ela vive a inocência da idade ao meio das descobertas daquele mundo imundo. Já com Max, a garota sente uma espécie de dever de proteção. Já com os pais adotivos, tem que lidar com jeito amargo da mãe, que nos conquista ao demonstrar suas facetas de carinho e ternura de forma sútil e coesa. E com o pai, vive em grande harmonia e cumplicidade. Geoffrey Rush e Emily Watson desempenham ótimas performances, assim como os jovens Sophie Nélisse e Nico Liersch encantam pela maturidade em cena. Infelizmente Ben Schnetzer não consegue transpor o mesmo peso que Max tem no enredo na sua interpretação. Apesar das interações de Liesel e Max terem mais destaques no filme, são seus poucos momentos com o garoto Rudy que fascinam. Ele sempre fiel à amiga, desde os primeiros minutos de projeção, onde tenta lhe tirar um simples sorriso mesmo com o desprezo da tal, já que a garota ainda está abalada para aceitar sua nova vida e aos poucos vai iniciando uma linda amizade. Rudy ainda compartilha da ilusão de venerar a guerra, sendo vítima da perfeição que eram as propagandas nazistas, e da verdadeira lavagem que faziam nos habitantes, (afinal pra isso eles eram geniais), mas como havia dito, Rudy tem pouco tempo em tela, e essa discussão assim com o filme em si é abordada de forma artificial. Uma pena. Já a direção de Brian Perciva incomoda devido às tentativas excessivas de manipular as emoções do público, apelando para o uso da trilha sonora melosa e exagerada de John Williams (responsável por tantas composições extraordinárias da história do cinema, nos últimos tempos trabalhando em filmes como Cavalo de Guerra e Lincoln, vem demonstrando falta de criatividade) em sequências com uma série de tomadas óbvias e diretas, mas acerta em alguns momentos, como a cena em que um soldado vasculha o porão da casa dos Hubermann à procura de Max. A sequência é muito bem conduzida, equilibrando bem a tensão.
Na parte técnica oscila entre acertos e erros. A fotografia beneficia os cenários, como as ruas alemãs que ganham tons brancos e cinzas, contribuindo para o clima triste de opressão pelo partido nazista. Por outro lado, há uma pequena falha de construção desses ambientes, exemplo de uma cena onde aparece uma chaminé com fumaça parada, onde fica visível a cidade cenográfica. Pequenos descuidos que poderiam ter sido evitados pela produção.
Tendo um final que embora cause momentos de comoção, perde muito de seu impacto e soa muito mais como um recurso para levar as lágrimas. Mas apesar de todos os seus problemas, principalmente pela falta de pretensão de ir fundo no seu contexto, A Menina que Roubava Livros ao menos tem a qualidade de conseguir com que a plateia se importe com os personagens, e isso já vale a sessão.
|
Nota: 7/10
0 comentários:
Postar um comentário