segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Crítica: "Gravidade"

Título original: Gravity
EUA/Reino Unido/México, 2013, 91 min.
Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro: Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón
Elenco: Sandra Bullock, George Clooney






"Ambição, desenvolvimento e recompensa das melhores usando o melhor que o cinema pode nos proporcionar."

por Bruno Albuquerque 

Ambição. Eis algo que está em falta no cinema – e, principalmente, no hollywoodiano. Ambição é necessária para longas fantásticos, emocionantes e inesquecíveis – porém, deve ser calculada com esmero, pois qualquer mínimo exagero pode prejudicar o produto final. Entretanto, estamos em 2013. Já vimos A Viagem (o longa mais ambicioso – e vitorioso em seu objetivo – do ano até o momento), Star Trek (repetindo sua essência ao apresentar um blockbuster com um “plus” filosófico para o público mais atento e dedicado) e Only God Forgives (mais uma obra-prima de Nicholas Windingn-Refn, diretor de Drive, cheia de metáforas brutais e um exercício de estilo fabuloso). E todos esses lançados na primeira metade do ano. Então, o que ainda nos restava?

Havia a promessa de Gravidade, primeiro filme, após um hiato de anos, de Alfonso Cuarón, diretor do excelente Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e do excepcional Filhos da Esperança, aonde fixou sua principal característica: planos-sequência intermináveis e com ângulos e movimentos de câmera dos mais improváveis. Seu novo filme, estrelado por Sandra Bullock e George Clooney, prometeu. Muito. James Cameron o elegeu como “o melhor filme no espaço de todos os tempos”. Todos os que o assistiram em festivais o classificavam como “excelente” ou “obra-prima”. Agora, após o lançamento do longa nos cinemas comerciais, vem a pergunta: ele cumpriu? Ele realmente é tudo isso o que diziam ser?

Ele é, sim, tudo o que diziam. E muito, mas muito mais.

Acima de tudo, Cuarón é inteligente. Ele jamais faria um filme por impulso, mudando alguns aspectos durante a gravação ou retocando determinados pontos na pós-produção. Não. Ele o planejou milimetricamente, antes mesmo de desenvolver o roteiro. Percebe-se, por todo o cuidado do longa-metragem em sua precisão ao gerar suspense e, muitas vezes, o pânico, que Cuarón planejou tudo quando tinha apenas a ideia básica do enredo do filme. Digo isso justamente porque, durante os 90 minutos do longa, vemos todas as possibilidades que Cuarón poderia ter imaginado para desenvolver o enredo de seu filme sendo postos em prática: temos a Dra. Ryan perdendo todo o oxigênio de sua reserva; temos a mesma sendo lançada espaço adentro, sem chance alguma de ser resgatada; vemos destroços de satélites passando de raspão perto de si; uma de suas naves sendo incendiada de dentro para fora; o escuro total do espaço sideral encobrindo a protagonista completamente, deixando apenas as luzes de seu capacete visíveis em meio à escuridão; dentre outros. Gravidade vê a inquietação do público como objetivo, e usa de todos os artifícios possíveis para alcançá-lo.

Tendo noção total de que poderia mover sua câmera da maneira que quisesse (já que, no espaço, não há nenhum eixo que obriga a câmera a ficar fixa, por conta da falta de gravidade), Cuarón usa e abusa dos planos-sequência – que se mostram, aqui, de vital importância para a ascensão do suspense. Desde o plano inicial, que dura 8 minutos, passando pela troca, sem cortes, do ponto de vista objetivo ao subjetivo (visão do público, visão do personagem, respectivamente) em uma única cena, e chegando em um interminável, porém genial, take da protagonista relaxando após uma situação tensa. O diferencial: ela está em posição fetal, e um cabo solto da nave ao seu lado, pendendo sob sua barriga, simboliza o cordão umbilical. Brilhante. (Você pode ter uma noção da cena aqui.)

Outro ponto positivo do longa é o seu roteiro: simples, porém profundo. Você sofre junto com os personagens por conhecer suas personalidades, seu problema naquele momento e seus dramas no passado (o acontecido nos anos anteriores da protagonista é o que move suas atitudes, o que a inspira, e isso fica claro durante todo o desastre espacial que é narrado no filme). Ou seja: não só preciso na qualidade técnica de seu filme (a trilha sonora também é fantástica, sendo utilizada como gerador de efeitos sonoros, que não existem no espaço, e fez este que vos fala se emocionar em diversos momentos), mas Gravidade também se preocupa com a forma em que sua trama é explorada. Sensacional.

Surpreendendo o tempo inteiro, tirando o fôlego do público (literalmente. O cinema inteiro suspirava ao mesmo tempo durante minha sessão) e com um final magistral, incrivelmente empolgante e inesquecível, Gravidade é, sim, um dos melhores filmes do ano – e, ouso dizer, da década. Alfonso Cuarón, finalmente terá o reconhecimento que sempre mereceu.

Nota: 10/10

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