Dinamarca/Alemanha/França/Bélgica/Reino Unido, 2013, 120 min.
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Elenco: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgård, Stacy Martin, Shia LaBeauf, Uma Thurman, Christian Slater
"Um estudo de personagem guiado por filosofias humanas, tudo usando o sexo como principal guia - porém não livre de problemas."
por Bruno Albuquerque
Em seus cartazes de divulgação, vemos a frase "Forget about love" (algo como "Esqueça o amor") acima de fotos dos personagens aparentemente tendo orgasmos. Em seu trailer, imagens de vulvas, sexo violento e nudez ao som de um rock pesadíssimo.
No filme em si, um estudo de personagem, gerador de filosofias a partir do uso de metáforas e, em alguns momentos, comédia. Tudo usando, obviamente, o sexo como principal guia. Lars Von Trier é um cara interessante. Sempre escolhendo temas riquíssimos para abordar (Dogville com suas máscaras sociais e Melancolia sobre relações familiares e depressão), o diretor sempre soube abordá-los de maneira original e golpeando o espectador com a mensagem que escolhera para passar. Agora, em Ninfomaníaca: Vol. 1 ele mais uma vez repete a dose - porém, sem o mesmo efeito dos filmes citados anteriormente (o que não o diminui em nada, inclusive). A grande surpresa - e agradabilíssima, diga-se de passagem - foi sua escolha em abordar temas extremamente filosóficos e, ainda por cima, utilizando-se de diversas metáforas (utilização que, particularmente, adoro). A mais recorrente é sobre a pesca - e talvez a mais correta de todas: o que Joe faz realmente é uma pesca. Assim como um pescador, ela vai até a fonte do que quer. Assim como um pescador, ela lança suas iscas (as roupas, as expressões, as falas) e assim como um pescador dedicado e competente... acaba conseguindo além do necessário. Como eu já havia dito, o filme é um enorme estudo de personagem. Então, o foco da narrativa ser único e exclusivo para a vida de Joe é mais do que aceitável. Logo no início, Joe deixa bem claro o que é. "Sou um ser humano mau", admite na sua primeira conversa com Seligman. A partir daí, o filme se presta a explicar o porque de sua fala. E atinge isso muito bem: a mostra mentindo para seus parceiros, acabando com suas amizades, perdendo entes queridos e fracassando em sua tentativa de amar, assim como acabando com a família de um homem casado, tudo por motivos que ela própria causou. Tudo, é claro, tendo um paralelo traçado por meio de metáforas, expostas em diálogos riquíssimos, geralmente falados por Skarsgård. Resumindo: o roteiro, de forma geral, é ótimo. As atuações são outro ponto a se destacar. A Joe mais jovem é extremamente inexpressiva quando necessário, porém há uma cena de sofrimento em que ela se destaca. Charlotte Gainsbourg interpreta uma Joe corretíssima, com uma expressão assustada embora ameaçadora, mantendo sempre a mandíbula levemente esticada para a frente e os olhos quase arregalados por quase todo o tempo. A fotografia é interessante por guiar a nossa atenção: note como, sempre que Joe, na casa de Seligman, está falando algo importante ela está logo abaixo de uma luminária, que expele uma luz de coloração branca (em meio a um quarto aonde a cor amarela é a luminosamente predominante) e no capítulo sem cores, quando uma enfermeira passa por Joe e seu chapéu é o único item na cena inteiramente branco, deixando claro que ali era um hospital. Também é bacana notar os gráficos que surgem em cena, as vezes para gerar humor, as vezes para aumentar a informação do espectador sobre a cena (como as explicações sobre os números de Fibonacci ou a composição de uma sinfonia no final do longa). Mas como dito na citação desse texto, Ninfomaníaca: Vol. 1 tem seus problemas. Não só é expositivo em explicar a grande maioria de suas ótimas metáforas, mas é óbvio em algumas de suas inserções não-diegéticas e possui cenas desnecessárias. Várias, aliás: os slides que mostram diversos pênis em tela em nada acrescentam à personalidade de Joe, que, em uma breve frase, já nos convenceria de que ela, de fato, conhece todos os tipos de pênis das regiões ao seu redor. A imaginação de Seligman, com Joe fantasiada de professora, é outro exemplo também, assim como o pai dela, que após se passarem anos no enredo retratado, permanece com a mesma jovem expressão. Também as coincidências do roteiro, que se tornam mais superficiais ainda quando tenta parecer original ao comentar a si mesmo, usando os diálogos dos personagens. A polêmica acerca do filme não tem fundamento - aliás, até tem: sua campanha publicitária. Com um símbolo que lembra os contornos de uma vagina, os personagens expressando prazer sexual e frases como "esqueça o amor", era óbvio que o rebuliço iria surgir. Mas ao conferir o filme, notamos que isso não passou de uma jogada de marketing. De fato, há bastante sexo (vemos a genitália dos personagens vez ou outra), porém ele não é constante. A preocupação maior do filme é contar sua história, e isso fica claro demais. Com imagens do próximo filme surgindo durante os créditos finais, Ninfomaníaca: Vol. 1 é interessante na maneira com a qual trabalha sua proposta, mas que parece ter guardado toda a selvageria que prometia para o final - que será, em seu marcado para ser lançado em março, "Vol. 2". |
Nota: 7/10
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