EUA, 2013, 90 min.
Direção: Joseph Gordon-Levitt
Roteiro: Joseph Gordon-Levitt
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Scarlett Johansson, Julianne Moore, Tony Danza, Brie Larson, Rob Brown, Italia Ricci, Lindsey Broad
" O interessante estudo sobre a esfera dos relacionamentos que marca a estreia de Gordon-Levitt como diretor "
por Leo Bastos
Don Jon (mais uma vítima das traduções toscas do Brasil, nomeado Como Não Perder Essa Mulher) não é bem uma comédia romântica que agradará com facilidade o público em geral. Creio que muitos iram rotular o filme de “machista”. Isso se deve pela iniciativa ousada do diretor e roteirista estreante Joseph Gordon-Levitt, que leva para as telas uma história focada nos conflitos sentimentais de um protagonista, que vivido pelo próprio, tem características aparentemente vistas como “problemas” pelo senso comum. Entre elas destacam-se o grande número de mulheres que se relaciona sexualmente e sua fixação por conteúdos
eróticos.
Em meio à sua rotina agitada, Jon Martello ainda dedica-se a prática de atividades de musculação, sua família, e a igreja, onde faz visitas frequentes com fins de relatar ao padre seus últimos atos, aos quais considera “pecado”. Casualmente em uma das suas noitadas de diversão acaba tendo uma forte atração pela bela (Suspiros…) Barbara Surgaman (Scarlett Johansson) e eventualmente iniciando um relacionamento que levará Jon a questionar os dilemas da sua rotina. Bem, como eu havia mencionado, pode ser visto como machismo os rumos que o filme busca explorar. Mas essa é uma visão totalmente equivocada. O roteiro de Levitt na verdade é muito inteligente, diga-se de passagem. Ao invés de se acomodar em situações de vergonha alheia, ou se render aos clichês do gênero, constrói uma grande reflexão sobre a esfera central dos relacionamentos, que acaba se tornando em certos casos uma espécie de “prisão psicológica” devido ao egoísmo do parceiro (a). Além da coragem em abordar de forma segura e sem tabus o uso feito pelos admiradores do mercado erótico. Tudo isso com base no sútil e divertido estudo do personagem principal. Aliás, Jon se mostra cada vez mais interessante à medida que o conhecemos. Levitt não se preocupa em expor uma figura moldada pelos estereótipo do politicamente correto, mas sim um ser humano com tantos defeitos quanto qualquer um. Isso pode ser visto por sentimento de possessão e egoísmo que Jon exibe em alguns momentos, ao citar em sua narração em off ” minha família, meus amigos, meus pornôs” ou até em cena que se recusa a ter uma faxineira limpando sua casa por não gostar de estranhos lidando com o que é seu. Essa questão de espaço defendido pelo personagem é jogada de algumas formas. Levitt deixa mais claro em duas sequências que exibem as primeiras amostras de seu talento como diretor: a primeira mostrando a facilidade que Jon tem ao fazer sua musculação, mas o mostrando sozinho no plano, e em outra mais adiante, ele se sente incomodado com a presença de Barbara durante o mesmo evento. Uma espécie de hábitos que vivem em mundo fechado exclusivamente ao seu alcance. Além disso, Jon ainda tem problemas de insegurança, vendo com preconceito seus próprios gostos. Demonstrando isso com suas visitas de praxe a igreja, vendo a confissão como uma espécie de terapia para os atos que ele mesmo os considera “imoral”. Segundo a própria visão que o personagem expõe, ele se realiza mais na masturbação do que no sexo real. Vendo o conteúdo erótico como arte. Ao ter essas predileções julgadas por Barbara, Jon encontra além do dilema de aceitar ou não a crítica dela, sua autocrítica. Levitt encara sobrecarregar suas funções com o posto de protagonista, criando em Jon um sujeito com postura carismática que levará com mais facilidade ao telespectador a tentar compreender seus conflitos e para julgá-lo com base em argumentos claros e justos. A sempre ótima Scarlett Johansson (Suspiros…) faz uma construção bastante eficiente da sua personagem que leva a Barbara um tom sútil de garota segura que aos poucos vai revelando sua verdadeira personalidade de modo coeso e sem soar artificial. E ainda temos a excelente participação de Julianne Moore no papel de uma mulher experiente que surge delicadamente na vida Jon, revelando-se aos poucos uma personagem decisiva ao desenvolvimento do enredo. Mas apesar de demonstrar bastante eficiência em sua estreia atrás das câmeras, Levitt escorrega às vezes pelo exagero em algumas situações que usa bem até certo ponto. Como a narração em off, essencial em diversos momentos, e em outros acaba soando desnecessária, servindo apenas para narrar o que já estamos vendo, problema normal em tantos filmes que usam o recurso. Além de algumas extravagâncias no uso da câmera. Mas nada demais que comprometa o resultado final. Ousado e inteligente – a primeira característica citada obviamente não funcionaria nunca sem a segunda, o primeiro longa-metragem de Levitt é bem mais profundo que um simples trabalho do gênero. Apesar do risco de algumas pessoas não se identificarem ou gerar um certo incômodo por focar na realidade crua do mundo em que habitam esses personagens, só o fato de proporcionar a reflexão já é um prato cheio para minha recomendação. E que venham mais trabalhos desse jovem e promissor diretor iniciante.
Nota: 8/10
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