domingo, 12 de janeiro de 2014

Crítica: "Jogos Vorazes: Em Chamas"

Título original: The Hunger Games: Catching Fire
EUA, 2013, 120 min.
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Simon Beaufoy, Michael Arndt (baseado no romance Em Chamas, de Suzanne Collins)
Elenco: Jennifer Lawrence, Liam Hemsworth, Jack Quaid, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Lenny Kravitz, Philip Seymour Hoffman, Amanda Plummer


"A segunda parte da saga Jogos Vorazes só nos faz ter mais certeza ainda de que é a série infanto-juvenil cinematográfica mais original e bem trabalhada dos últimos tempos."


por Bruno Albuquerque

Há tempos, diversos amigos meus - e até minha namorada, principalmente ela - me cobravam: "Já viu Jogos Vorazes? Não?! Vá ver agora!". Sempre adiei por acreditar que fosse só mais uma dessas séries infanto-juvenis, e provavelmente ser mais um caça-níquel que se aproveita da paixão insana de fãs adolescentes. Porém, após conferir o primeiro filme, de 2012, me surpreendi: original e com uma mensagem maravilhosa, Jogos Vorazes me chamou muito a atenção. Porém, não aguardei ansiosamente o segundo. Quem diria que mais uma vez me surpreenderia: sendo tão bom quanto o primeiro, Em Chamas se destaca ao firmar ainda mais a ideia de que todo tipo de governo manipulador e opressor deve ser destronado. E pelas mãos do povo.

Mas não por isso o longa se esquece de seus personagens e de construir uma narrativa interessante: de cara, já vemos uma Katniss atordoada pelo trauma de ter participado - e ganhado, vendo quase todos ao seu redor sendo mortos (e tendo que matar alguns) - da última edição dos Jogos Vorazes. Fora isso, ainda há espaço no filme para desenvolver a vida de Katniss após o evento, tanto em casa, com sua mãe e irmã, quanto fora dela, com seu namorado - e suas intrigas, já que ela deve forjar um relacionamento com Peeta, para manter a imagem gerada para a população no longa anterior. É interessante ver como isso é um reflexo da manipulação opressora do próprio governo que comanda os Distritos, que, assim como todo governo totalitarista, acaba por influenciar pessoalmente as pessoas que dele dependem. E isso, para o filme, é engrandecedor, já que ele utiliza seus personagens e situações para alicerçar as ideias que quer transmitir.

Tecnicamente, o filme não deixa a desejar: com figurinos que remetem ao filme anterior mas que trazem alguns detalhes novos (perceba como as armaduras do exército do governo são diferentes e como Katniss agora veste um cachecol), para firmar a noção de que os tempos estão mudando. A fotografia é certeira ao nos introduzir à época fria retratada no longa com uma paleta de cores esbranquiçadas e, no final do filme, em um momento de alegria (sem spoilers, relaxem!), a tela é tomada por uma iluminação amarelada, quente, nos remetendo a própria alegria retratada em cena. As atuações são sensacionais - e, claro, o destaque é dela: Jennifer Lawrence é encantadoramente talentosa. Na cena do elevador, aonde uma das outras competidoras fica nua na sua frente, a expressão de Lawrence é sensacional. Josh Hutcherson é correto, como sempre, e Woody Harrelson nos relembra sua capacidade "camaleonica" de desaparecer atrás de seus personagens. Philip Seymour Hoffman, um de meus atores favoritos atualmente, surge misterioso, e quando nos é revelado seu segredo toda a sua interpretação fria e egoísta, chegando a ser repugnante, é justificada. E, para terminar, não podemos esquecer Amanda Plummer, consagrada por Pulp Fiction, sendo sensacional em seu papel.

Acredito que o único defeito de Em Chamas é se segurar muito em Jogos Vorazes. A estrutura do filme é IDÊNTICA ao anterior, o que nos revela um certo medo em arriscar algo novo. Em diversos momentos, me senti assistindo ao mesmo filme de 2012. Também é importante lembrarmos que sua duração se estende desnecessariamente - diversas cenas e sub-enredos são descartáveis (como a da senhora idosa que se sacrifica no meio de uma névoa assassina). Entretanto, por mais que esses sejam erros pesados, Em Chamas é repleto de qualidades que podem compensá-los: o final, surpreendente é um deles (e me limito a isso para guardar as surpresas).

Também é importante ressaltar como o cenário do filme reflete ao que está acontecendo no nosso país (e em outras partes do mundo também): uma mídia e um governo tão corruptos e saturados que não conseguem controlar totalmente seu povo, fazendo-o se rebelar mesmo sabendo que muito longe não conseguirão ir. É sensacional ver ativistas na tela, portando bandeiras com o símbolo do tordo de Katniss, e lutando pelos seus direitos mesmo sabendo que o violento e tirano governo irá oprimi-los. E é importante ressaltar como o filme retrata o governo como antiquado: a cena em que o namorado de Katniss é torturado acontece com ele amarrado e levando chicotadas, remetendo à época da escravatura onde os escravos eram torturados nos chamados Troncos.

Tendo uma mensagem sensacional e um enredo que auxilia a melhorar ainda mais isso, Jogos Vorazes: Em Chamas nos traz agora a promessa de que os próximos dois filmes serão tão bons quanto ele e seu antecessor - ou, quem sabe, até melhores.

Nota: 9/10

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