terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Crítica: "Frozen — Uma Aventura Congelante"

Título original: Frozen
EUA, 2013, 108 min.
Direção: Chris Buck e Jennifer Lee
Roteiro: Jennifer Lee, Chris Buck, Shane Morris (baseado no conto de fadas A Rainha da Neve, de Hans Christian Andersen)
Elenco: Kristen Bell, Idina Menzel, Jonathan Groff, Josh Gad, Santino Fontana, Alan Tudyk, Ciarán Hinds


"Disney quebrando suas próprias barreiras."

por Leo Bastos

Houve um tempo em que minha fé nos estúdios Walt Disney estava muito abalada. Era muito difícil suportar a decepção de ver o grande responsável por minha grande paixão ao cinema, se tornar apenas mais uma fábrica de produtos artificiais e puramente comerciais. Fato que era de praxe durante a década de 2000. Exceto quando se tratava da Pixar. Mas de uns tempos pra cá ela está fazendo de tudo para recuperar o prestígio. Apesar de não morrer de amores por Enrolados, é uma animação bem melhor que os lançamentos anteriores. Detona Ralph é fantástica. Muito bem produzida. E agora temos o fabuloso Frozen — Uma Aventura Congelante, que volta a investir na velha fórmula das princesas, dessa vez trazendo duas personagens de personalidades fortes, as quais talvez sejam as melhores protagonistas do estúdio.

Com uma história que conta com velhos elementos do gênero – magia, príncipes, criaturas estranhas, etc – Frozen coloca na tela os conflitos das irmãs Anna e Elsa (dubladas na versão original respectivamente por Kristen Bell e Idina Menzel), duas princesas. Elsa tem o poder (ou maldição) de criar gelo e neve. Em um acidente, acaba ferindo a irmã. Para proteger ambas, o rei e a rainha autorizam trolls que moram na floresta a apagar as memórias de Anna. Com isso resolvem isolar Elsa do mundo e da irmã para protegê-los da exposição aos seus poderes, causando o sofrimento de ambas por se afastarem. Tempos depois o rei e rainha morrem em um naufrágio e Elsa acaba tendo que assumir o trono. Durante a cerimônia de coração, outro incidente ocorre: Elsa termina demonstrando seus poderes publicamente. Assustada, ela resolve fugir para uma isolada montanha, provocando um grande inverno no reino. A partir daí, Anna parte em uma perigosa jornada em busca da volta de Elsa.

O que mais chama atenção é a construção das duas protagonistas – não foi à toa o que citei no final do primeiro parágrafo. O privilegiado roteiro é de grande delicadeza ao focar nas características e na relação das personagens, que resulta no público uma grande afeição por ambas, e fácil identificação com a preocupação de Elsa em zelar a irmã. O mesmo para a determinação de Anna em encontrá-la depois de seu desaparecimento. Essa última tem falas e movimentos mais acelerados, o que demonstra sua personalidade mais alegre e impulsiva. Enquanto Elsa tem justamente o contrário, expressões mais leves e a voz mais calma, abordando sua frieza e tristeza com a vida. O que se modifica na bela sequência musical Let It Go, onde Elsa está tendo pela primeira vez liberdade com seus poderes, e aos poucos vai se livrando do vestido verde e da capa roxa que simbolizam sua depressão, e adotando um vestido azul cheio de caldas agitadas pelo vento, mais uma vez em harmonia com o visual da animação. É também visível durante esse musical, como Elza vai se soltando e sua expressão tímida é abandonada por animados movimentos corporais, acompanhada por um lindo nascer do Sol, onde vemos toda liberdade e leveza na alma daquela jovem que finalmente tem paz para ser ela mesma.

Os antagonistas são muito bem estabelecidos também. O jovem solitário Kristoff é carismático e protagoniza situações divertidas ao lado de Anna. Assim como o boneco de neve Olaf – cumprindo a tradição de sempre ter uma criatura engraçada que faz piadinhas toda hora, em uma animação – mas não precisa sair do contexto principal da história para fazer a plateia rir, como acontece com muitas. Sempre é prazeroso seus momentos em cena. O príncipe Hans tem um papel muito importante na história – claro que não posso revelar tudo porque seria spoiler – mas começando por quebrar o antigo clichê de trabalhos do tipo, do tal “amor à primeira vista”, por exemplo, servindo até como paródia dentro da própria animação. Só isso que posso adiantar.

Voltando adotar a fórmula dos musicais, que são de grande de acerto, com canções muito bem escritas, com ótimas coreografias e gostosas de acompanhar. Cada uma combinando com tom de cada situação. Algumas como a já citada Let It Go devem se tornar memoráveis como aconteceu com os grandes clássicos do estúdio. (Como ainda não vi na dublagem original, infelizmente, não posso comentar sobre o desempenho musical de cada um.)

Privilegiado com um belíssimo design de produção, que explora ao máximo o tema principal do filme, o inverno, usando as cores branca e azul para criar diversas paisagens interessantes, como o castelo de neve criado por Elsa. Aliás, é muito legal acompanhar a sutil transição para esses ambientes que vão surgindo depois da fuga dela. O talento da equipe pode ser demonstrado desde a criação de pequenos flocos de neves que dão um lindo visual ao 3D, até a construção da escadaria do castelo citado, servindo também como importante instrumento para narrativa, simbolizado a evolução dos domínios que Elsa mantém sobre o poder. Criando também um visual bem original para os trolls, que surgem como seres pequenos e em forma de pedra. Ajudando na fácil identificação para o público infantil, que os tornam adoráveis. Assim como os personagens humanos, que moldados com expressões faciais delicadas e olhos grandes, que também contribuem para o carisma.

Além de todas as qualidades já citadas acima, Frozen ainda consegue a proeza de quebrar todas as barreiras do machismo típico de animações de gênero– novamente voltando para minha colocação no fim do primeiro parágrafo – tendo suas protagonistas com atitudes fortes o suficiente para se protegerem e resolverem seus dilemas. Em uma das cenas finais, através de um simples ato - determinante para o desfecho - é mais que visível à quebra dessa barreira. Claro os outros personagens tem seu papel no desenvolver, mas são meros coadjuvantes nesse mundo dominado por essas duas mulheres poderosas e que espero que sirvam como referências para a criação de muitas personagens que estão por vim. Ou melhor, que a animação em si seja fonte de exemplo. E continue assim dona Disney.

OBSERVAÇÃO 1: Como já havia dito, não tive o privilégio de conferir a dublagem original, devido a falta de sessões legendadas aqui em Maceió – AL. O que é lamentável, porque mais uma vez temos a presença de famosos no projeto. O que venero, e muito. Fábio Porchat até faz um trabalho menos desastroso que Luciano Huck em Enrolados. Mas continuo preferindo ele como humorista. 

OBSERVAÇÃO 2: Há uma pequena cena pós-créditos.

Nota: 10/10

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