EUA, 2013, 116 min.
Direção: Jean-Marc Vallée
Roteiro: Craig Borten, Melisa Wallack
Elenco: Matthew McConaughey, Jared Leto, Jennifer Garner, Dennis O'Hare, Steve Zahn
"Não apenas um retrato de sua era ou um drama sobre pessoas que convivem com a AIDS, mas também um filme sobre evolução espiritual."
por Bruno Albuquerque
É incrível como há uma infinidade de filmes sobre pessoas com doenças terminais com o único propósito de emocionar o público, o que acaba prejudicando sua produção e os tornando em meros melodramas. Ao ouvir de diversos amigos que Clube de Compras Dallas era "incrivelmente emocionante e maravilhosamente tocante", imediatamente coloquei um pé atrás ao começar a assisti-lo. Fui esperando um longa com cenas feitas para unicamente comover o público, fazê-lo chorar e, por conseguir isso, convence-los de que é um bom filme (mesmo que talvez nem seja). Porém, me surpreendi: o longa não só utiliza de maneira surpreendentemente original sua temática como, algo que admiro em todo filme que se presta a fazer isso, utiliza todos os recursos apresentados em tela para colocar a narrativa para frente.
Se for feita uma rápida pesquisa pela internet, logo se descobre a preocupação do governo e de diversos sites de saúde em recomendar ao leitor que esteja com alguns sintomas da infecção do HIV para irem logo realizar um exame de sangue, para descobrirem se possuem ou não o vírus. Isso, claramente, é um reflexo da ignorância das pessoas para com sua saúde, que constantemente não ligam para sinais de deficiência imunológica simplesmente por medo do que podem descobrir. Clube de Compras já começa original nesse aspecto: seu principal foco é a maneira com a qual Ron Woodroof, interpretado magnificamente por Matthew McConaughey, encara a doença, começando como a grande maioria ao não aceitar a sua condição e mentindo para si mesmo ao tentar continuar com sua vida normal. E tal mentira é evidenciada quando ele vai até uma biblioteca, para pesquisar sobre o assunto e logo em seguida corre para o hospital, para descobrir como poderia se tratar. E a evolução espiritual do personagem tem início ai. O roteiro do filme é brilhante e em nenhum momento extravagante, o que auxilia bastante na identificação com o público. O próprio faz questão de desenvolver Woodroof como um cara entregue aos seus vícios, com diversos preconceitos enraizados em si e a sua preguiça intelectual ao aceitar inquestionavelmente a vida sem graça que leva., para, com o decorrer do filme, mostrar sua evolução, ao correr atrás de uma maneira de ganhar a vida que se adequasse à sua atual condição, assim como perde seus preconceitos e se livra de seus vícios. Como já dito no texto, Dallas Buyers é um longa sobre a evolução espiritual, principalmente a de seu protagonista. Matthew McConaughey é de uma entrega impressionante ao seu papel, não só pela sua fragilíssima consistência física, mas por suas expressões de ódio e desprezo, mesmo sendo um homem a beira da morte e de pesadíssima fraqueza. Não demora muito para esquecermos que o que estamos assistindo na verdade é um ator fingindo ser outra pessoa, para aceitarmos que aquele homem que ali estamos vendo é real. O mesmo acontece com Jared Leto, que indubitavelmente levará o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para casa esse ano, com toda sua carga emocional utilizada para auxiliar seu personagem, assim como para evidenciar todo o drama que vive por conta de sua doença. Destaco também a cena em que este não consegue conter sua felicidade em meio ao seu espanto ao ver Woodroof forçar um amigo homofóbico a cumprimentá-lo - esta que, talvez, é minha cena favorita no filme, pois não mostra o melhoramento de caráter do protagonista pelas suas atitudes, mas sim pela reação das pessoas que convivem com ele (assim como a doutora interpretada por Jennifer Garner, na cena do restaurante). Atenção: alguns spoilers a frente! Porém, o longa não é livre de defeitos: após a morte da personagem de Jared Leto, não sentimos a tristeza que o filme queria nos passar. E o único motivo é que não fomos apresentados àquela persona com a mesma profundidade que fomos apresentados ao protagonista. Não sofremos junto com o namorado dela, quando este chora após ver Woodroof chegando ao hospital, pois ele é um personagem incrivelmente unidimensional. Agora nem lembro o seu nome, nem sei se ele fora mencionado em algum momento. Entretanto, os pontos negativos se limitam a este. A fotografia do filme é certeira ao, assim como feito no sensacional Only God Forgives, determinar cores específicas para determinados estados de espírito vividos pelos personagens: o amarelo, para a vida de vícios de Woodroof (note como a primeira cena do filme, aonde ele faz sexo com duas mulheres, possui a mesma paleta de cores da cena em que ele faz sexo com uma outra mulher, agora no seu escritório). E, próximo ao final do longa, aonde tudo parece caminhar para uma paz estável, e somos inundados por um azul claro, simbolizando a calmaria que está tomando conta do filme. Com atuações brilhantes, um roteiro riquíssimo e uma temática abordada de forma original, Dallas Buyers Club é um dos maiores merecedores dos prêmios para os quais está sendo indicado no Oscar 2014, e vale totalmente a conferida. |
Nota: 9/10
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